segunda-feira, novembro 28, 2005

O Zé dos Tremoços não pára

O Super-Mano, ou o outro sovaco

Nasceu em berço doirado dos Soares, no ocaso da República, entre bombas, greves e pastelarias Bénard. Teve esmerada educação burguesa, não conseguindo sequer sair de casa: o Colégio (Moderno) onde estudou era do pai, de maneira que andava sempre controlado. Depois, como o dr. Salazar não queria cá universidades livres, lá teve que sair da asa dos progenitores. Mantinha porém, a educação burguesa: gabava-se de ir com chauffeur para a Universidade e passou o seu tempo entre tertúlias de café e pastéis de nata. Até obter o canudo de advogado arrastou-se preguiçosamente pela academia durante 9 anos. Preguiçosamente e aventureiramente: saltara o bichinho revolucionário da política, que os profes Agostinho da Silva e Cunhal lhe haviam perfidamente inoculado. Andou em desvarios de estudante rebelde até ser enquadrado pela brigada do PCP. Foi para os piqueniques do MUD-Juvenil à coca de namoros e saiu-lhe uma esposa (a dr.ª Iria Raposo).

Vicia-se em eleições ainda jovem. Começa como secretário do general Norton. Toma-lhe o gosto: sai do PC, que não gostava de eleições (vá-se lá saber porquê, se eles ganham sempre), e mete-se na Resistência Republicana e Socialista. Depois entranha-se com grupúsculos e cola cartazes por outro general, o Delgado. Passa os intervalos na prisão, por gentileza do dr. Salazar. Até que lhe sai o ás de copas: o PS, em insónia alpina de 1964. Por andar a denunciar um escândalo de costumes (o ballets roses), o dr. Salazar resolve dar-lhe novas férias retemperadoras, lá fora cá dentro, em S. Tomé.

Irrequieto, mete-se em novas encrencas, agora contra a guerra colonial. Resultado: tem que pôr-se ao fresco em França. Daí volta no sud-express para snifar os cravos revolucionários. Desintoxica-se, trocando-os por rosas com espinhos. Aproveita a queda dos militares de serviço para se colar ao poder. Nunca mais o largará. É o Papa da Democracia, os má-língua chamam-lhe o Lapa da Democracia. Trouxe a Europa connosco, patacas de Macau, o cinto apertado, as peixeiras da Nazaré e as residências abertas. A sua leitura de cabeceira é Maquiavel. ■ Zé dos Tremoços © 2005

1 Comments:

Blogger Imploding Mutant Hysteria said...

Que grande comment...fiquei fã do blog. Vou voltar...

1:59 da manhã  

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